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Adeus Portugal

Que comprimido queres tomar, o vermelho ou o azul?

Em 2012, assisti a algumas conferências que integravam o colóquio internacional A crise da(s) socialização(ões)?, organizado pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho, em parceria com outras entidades.
A pedido do Professor Almerindo Janela Afonso, no âmbito do mestrado que estava a fazer na altura, escrevi um pequeno texto sobre o evento que reproduzo de seguida. O objetivo era relacionar algumas ideias dos palestrantes, o nosso contexto socioeconómico, resultante das graves crises de 2008 e 2011. Visto a esta distância, o atual contexto não me parece muito diferente.

As conferências a que tive oportunidade de assistir, inseridas num colóquio que abordou temáticas de teor porventura mais vastas, apresentaram-nos uma visão extremamente pessimista, do meu ponto de vista, da atual vida em sociedade.

Por um lado, Jean Ruffier teve a “amabilidade” de nos recordar que vivemos numa sociedade em que há uma elite que nos manipula sistematicamente, devido a uma tendência absurda, que nos é intrínseca, para a obediência. Tendência devidamente comprovada por Stanley Milgram com a sua famosa experiência sobre a obediência à autoridade. É de assinalar que esta experiência teve a pretensão de perceber como é que um ser humano consegue infligir um sofrimento fatal a outro ser humano, só porque obedece a ordens dadas por outro ser humano.

Por outro lado, a tríada esperança, promessa e futuro, nas palavras de Moisés Martins, parece irremediavelmente comprometida: não vamos ter futuro, nem vale a pena ter esperança nas promessas que nos fazem! Somos apenas escravos, numa prisão que não conseguimos ver, nem sentir…

Por momentos, parece que somos transportados para o “imaginário” construído pelos irmãos Wachowski, que em 1999 realizaram o filme Matrix. Temos à nossa frente Morpheus que nos dá a escolher entre tomar o comprimido azul ou o comprimido vermelho.

Clica aqui para recordar esta cena do filme.

Se nos decidirmos pelo comprimido azul, vamos poder acordar na nossa cama e continuar a acreditar naquilo que quisermos. Estratégia que faço corresponder a acatar passivamente o que nos é imposto.

Se nos decidirmos pelo comprimido vermelho vamos poder conhecer a verdade e todas as suas consequências. Estratégia que faço corresponder às palavras de Manuel Jacinto Sarmento ao encerrar o colóquio: depois de todo este pessimismo é chegado o tempo do optimismo da ação.

Lembrei-me deste texto a propósito da discussão gerada no Facebook, intensa e muitas vezes pessimista, por causa do anúncio da greve dos professores às avaliações.
Devo dizer que nas escolas a discussão não é tão intensa. Aliás… não existe discussão sequer. Anda tudo muito tranquilo. Por isso, deixo aqui duas sugestões musicais do António Variações que me parecem muito apropriadas ao momento. Uma espécie de comprimido azul versus comprimido vermelho:
  1. Estou Além
  2. Muda de Vida

Como donos de um enorme capital cultural que os caracteriza (tenho de voltar a este tema), os professores saberão interpretar tudo isto e escolher qual o melhor comprimido. Ou talvez não…

Atentem, no entanto, à simplicidade destes versos:

Olha que a vida não
Não é nem deve ser
Como um castigo que
Tu terás que viver